Redes sociais integram ritos de adolescentes

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Há mais de cem anos, quando foi lançado o telefone, houve alguma discussão quanto aos riscos sociais que essa nova tecnologia apresentava: o aumento da agressão sexual e o prejuízo às relações humanas. “Ia destruir a nossa sociedade”, conta Megan Moreno, uma especialista em medicina para adolescentes da Universidade de Wisconsin, campus de Madison. “Os homens ligariam para as mulheres para fazer comentários lascivos, e as mulheres ficaria vulneráveis, e nunca mais teríamos conversas civilizadas novamente.” Em outras palavras, o telefone provocou muitas das mesmas preocupações que mais recentemente têm sido expressas sobre as mídias sociais na internet. “Quando uma nova tecnologia tão importante aparece, há sempre essa reação inicial alarmista”, diz Moreno.

De fato, muitas das primeiras pesquisas – e muitos dos primeiros pronunciamentos – sobre as mídias sociais pareciam calculados para fazerem os pais temerem uma tecnologia emergente que muitos deles não entendem tão bem quanto seus filhos. Seja no que se refere ao “sexting”, ao “bullying” virtual ou ao espectro da compulsão à internet, “boa parte da pesquisa em mídias sociais trabalha dentro daquilo que chamamos de paradigma do perigo”, explica Michael Rich, pediatra que dirige o Centro para Mídia e Saúde Infantil no Hospital Infantil de Boston.

Embora realmente haja riscos reais, e ainda que alguns adolescentes pareçam particularmente vulneráveis, os cientistas agora compreendem esse mundo de maneira mais matizada. Muitos deles começam a abordar as mídias sociais como uma parte integrante, ainda que arriscada, da adolescência, talvez não muito diferente das primeiras experiências ao volante, por exemplo.

Os pesquisadores também têm contemplado o Facebook, o Twitter e outras redes em busca como oportunidades para identificar problemas, captar pedidos de ajuda e fornecer informação e apoio. Rich, que vê muitos adolescentes se debaterem com questões relativas à internet, ressalta a importância de evitar julgamentos generalizantes sobre os perigos de entrar na rede.

“Não deveríamos ver as mídias sociais como simplesmente positivas ou negativas, mas como essencialmente neutras”, ele afirma. “É o que fazemos com essas ferramentas que decide como elas nos afetam e como afetam quem está à nossa volta.”

Os primeiros trabalhos de Moreno trataram de adolescentes que expunham registros de comportamentos de risco em perfis públicos do MySpace, postando fotos ou textos que se referiam a atividade sexual ou abuso de drogas e álcool. E-mails eram enviados àqueles adolescentes, sugerindo que modificassem esses perfis ou os tornassem privados.

As moças tendiam a reagir mais que os rapazes, descobriu Moreno, e os materiais de conteúdo sexual eram em geral mais removido que aqueles referentes a contextos de consumo de álcool.

Sua presente pesquisa, em contraste, aborda as mídias sociais como uma janela, uma oportunidade para compreender e melhorar a saúde tanto física quanto mental. Num estudo sobre as maneiras como estudantes universitários descrevem a tristeza em atualizações de status em seus perfis no Facebook, ela mostrou que algumas dessas expressões estavam associadas à depressão em estudantes que fizeram testes clínicos rastreadores.

Uma vez que o ano de calouro nas faculdades é um momento de alto risco para a depressão, muitos supervisores de moradias universitárias nas universidades norte-americanas já procuram utilizar o Facebook para monitorar os estudantes, diz Moreno. Talvez seja possível no futuro ajudar esses profissionais a reconhecer sinais de risco nos perfis online dos alunos que acompanham.

Ela reconhece, no entanto, que essa nova estratégia suscita questões sobre a privacidade dos estudantes, perguntando-se “Como pensar formas de estender essa abordagem a outros grupos de risco de maneira que não pareça uma invasão de privacidade?”. Por exemplo, como podemos ajudar pessoas em grupos de apoio a cuidar melhor umas das outras através das mídias sociais?

Indo e vindo entre os mundos da pediatria acadêmica e do jornalismo acadêmico, como tenho feito, fico impressionado com como nesses dois ambientes têm sido focados o potencial – e os riscos – das mídias sociais, e a importância de se compreender como a comunicação está mudando.

Nossos filhos estão usando as mídias sociais para atingir os eternos horizontes do desenvolvimento adolescente, que incluem a socialização com seus pares, a investigação do mundo, a experimentação de identidades e o estabelecimento da própria independência.

Em 2011, o Conselho para Comunicações e Mídia da Academia Americana de Pediatria emitiu um relatório clínico, intitulado “O Impacto da Mídias Sociais sobre Crianças, Adolescentes e Famílias”. Esse relatório começa enfatizando os benefícios das mídias sociais para crianças e adolescentes, como o aumento de suas habilidades comunicativas e das oportunidades para conexões sociais.

“Uma grande parte do desenvolvimento social e emocional desta geração está ocorrendo durante o uso da internet e dos telefones celulares”, aponta o relatório.

Nossa tarefa como pais é ajudá-los a lidar com isso de forma sábia e a entender – e evitar – alguns dos principais perigos e consequências dos erros que se podem cometer nessas mídias. (E podemos esperar deles o mesmo tipo de gratidão que recebemos por todas as nossas orientações: ambígua, claro, com um pouco mais de desdém se nossas habilidades técnicas não puderem ser comparadas às deles.

“Antes de adotar um modelo supostamente válido para todos os adolescentes, uma das perguntas que os pais devem se fazer é ‘Como isso vai interagir com a personalidade do meu filho?'”, diz Clay Shirky, que dá aulas sobre mídias sociais na Universidade de Nova York. “As mídias digitais são um amplificador. Elas tendem a tornar os extrovertidos mais extrovertidos e os introvertidos mais introvertidos.”

E tanto pais como pesquisadores precisam se assegurar de estarem a par das sutilezas das formas pelas quais os adolescentes interpretam as mídias sociais. Num simpósio realizado em 2011 sobre internet e sociedade, dois pesquisadores apresentaram informações sobre de que forma os adolescentes interpretam discursos negativos sobre a internet. Aquilo que adultos interpretam como “bullying” é em geral lido pelos adolescentes como um “drama”, um fenômeno associado, mas distinto.

Compreendendo o que os adolescentes pensam sobre retóricas mais severas, sugerem os pesquisadores, podemos encontrar formas de ajudá-los a se defenderem contra os verdadeiros riscos das agressões virtuais.

Os problemas do “cyberbullying” e do uso exagerado da internet são sérios, e os riscos de cometer erros online são muito concretos. Mas mesmo aqueles que tratam adolescentes com esses problemas estão agora comprometidos com a noção de que há outras perspectivas importantes colocadas para os pesquisadores – ou pais, ou professores – que se deparam com admirável novo universo no qual a adolescência acontece hoje.

As mídias sociais, diz Rich, “são a nova paisagem, o novo ambiente no qual os jovens estão fazendo suas opções no processo de se tornarem adultos autônomos – as mesmas coisas que vêm acontecendo desde sempre”.
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Referência: Dr. Perri Klass, The New York Times, via Terra.

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Blogueiro há 15 anos da área de Educação e Concursos, já publiquei mais de 6.059 notícias; Jornalista Técnico (Registro Nº 1102-MA - Ministério do Trabalho); Mestre em Ciência da Computação (UFMA), Doutorando em Biotecnologia (UFDPar). Em tempos de desinformação e fake news, o Castro Digital reforça o compromisso com o jornalismo de qualidade. Publico informações de forma responsável e que você pode confiar. Currículo Lattes.

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